Situação só piorou

A dispersão de refugiados pelo mundo acentuou-se nos últimos dois anos, a ponto de se tornar um dos mais graves problemas sociais enfrentados pelos países centrais. Eles chegam aos montes, nas fronteiras da Europa.

Poucos imaginavam que esse efeito colateral da guerra síria abalaria a estabilidade das grandes nações mundiais e as fariam pensar nos custos/ benefícios que supostamente essa guerra tem.
Memórias de uma época - II

20091023

Lider evoluiu, liderado não

O cérebro humano evoluiu porém mantendo as características de submissão de outras espécies.

Cientistas que analisam a evolução da liderança humana, estão chegando à conclusão de que, mesmo com o cérebro evoluído, a liderança humana não evoluiu da mesma forma. Tanto a atitude de liderar como a de submissão a um líder não são atributos exclusivos do ser humano.

A evolução do cérebro humano propiciou a aparição de formas mais complexas de organização social, mas na hora de eleger um líder, as decisões conservam traços do passado evolutivo. Talvez seja por isso que, na hora de se escolher alguém, sempre são levados em conta a idade, o sexo, a altura ou o peso dos candidatos.

A combinação de observações empíricas, modelos teóricos, neurociência, psicologia experimental e genética tem permitido explorar o desenvolvimento e as funções adaptativas de ambas as funções sociais.

Protótipos ancestrais

Mark van Vugt (2009), do Instituto de Antropología Cognitiva e Evolutiva da Universidade de Oxford, afirma que, na hora de votar, por exemplo, as pessoas encontram-se condicionadas por protótipos ancestrais de liderança, que se ativam em razão do contexto. Assim, se a situação é de "guerra", nos votantes, produzir-se-á a busca de um prototipo concreto, o do líder masculino e forte.

Andrew King (2009), da Zoological Society of London, discute que a evolução da espécie humana estabeleceu princípios de liderança e submissão durante vários milhões de anos e que guarda certas características animais, porém aprimoradas.

A liderança obteve uma grande importância na evolução humana, pois os líderes não só promovem as ações do grupo, mas também motivam, planejam, organizam, dirigem e contolam seus atos. E isso tem acontecido mais ou menos de forma democrática ou despótica, em pequenos ou grandes grupos, e apesar das coincidências filogenéticas entre humanos e não-humanos, a expansão do cérebro humano deu lugar a formas de liderança únicas nesta espécie (King, 2009).

Os resultados das análises de Dominic Johnson (2009), do Departamento de Política e Relações Internacionais da Universidade de Edimburgo, que combinam idéias das ciências naturais e das ciências sociais, sugerem que a liderança e a submissão nos humanos compartilha características de outras espécies, ambas com uma mesma origem evolutiva.

Em artigo da revista científica Current Biology, os citados cientistas comparam a liderança humana com a animal e concluem que uma das chaves universais de emergência de liderança e da submissão é a necessidade de coordenação. Assim, nas espécies em que aos indivíduos seja mais conveniente atuar e mover-se em grupo (principalmente em consequência de pressões sociais e ambientais), tendem a aparacer padrões de liderança e de submissão. Nestas situações, qualquer característica física ou comportamental que incremente a propensão de um determinado indivíduo a "ir em frente" é o que faz com ele se destaque como líder e que os demais tenham de segui-lo.


Características animais

Concretamente, em todas as espécies, os indivíduos mais propícios a converter-se em líderes são os que apresentam características morfológicas, fisiológicas ou de comportamento que lhes leva a atuar em primeiro lugar e a coordenar determinadas situações.

Uma das características é a motivação. Aqueles indivíduos que mais necessitam de um recurso particular são mais propensos a converter-se em líderes. Esse fenômeno foi observado tanto em peixes, como em zebras ou lêmures famintos. Quando sentiam fome, dirigiam-se a determinados locais, no que era seguido pelos demais.

Sucede o mesmo com os humanos: qualquer um que tenha maior incentivo para atuar, maior motivação, serão mais propícios a se transformar em líderes.

O temperamento é outra característica determinante da liderança, tanto em animais como em humanos. Em humanos, a extroversão está mais relacionada com a emergência da liderança do que a introversão.

Por outro lado, o líder também pode ser o mais dominante. Entre as espécies que formam sociedades hierárquicas (gorilas, lobos e grupos humanos que se valorizam em função de estatutos sociais) é muito comum os indivíduos dominantes assumirem o papel de chefe.

Para van Vugt, King e Jonson (2009), o fato de os homens obterem, em testes psicológicos, uma pontuação mais alta que as mulheres, nas avaliações de dominância e autoconfiança, poderia ajudar a explicar por que hoje em dia a liderança masculina continua sendo a regra na sociedade contemporânea.

Por fim, o conhecimento ou o grau de experiência são características que propiciam ao individuo tornar-se líder e atrair seguidores. Isso ocorre com os urubus, corvos, com certos tipos de peixes e com humanos.

Evolução da liderança humana

Segundo a literatura, existem, pelo menos, cinco etapas evolutivas na liderança humana:

1) emerge em espécies pré-humanas como mecanismo para resolver problemas simples de coordenação grupal;

2) utilizada para organizar ações coletivas em situações conflitivas (por exemplo, para manter a paz dentro de um grupo e assegurar sua unidade);

3) atenuada, nas antigas sociedades humanas igualitárias, propiciando a aparição de liderança baseada na democracia e no prestígio dos líderes, cuja finalidade era facilitar a coordenação do grupo;

4) o incremento dos mecanismos cognitivos dos gruposs sociais humanos, gerou para os líderes novas oportunidades de atrair seguidores mediante a manipulação e a persuasão (graças às teorias da mente e da linguagem);

5) o incremento da complexidade social das sociedades que se produziu atrás da revolução agrícola gerou aa necessidade de líderes mais poderosos e formais que questionaram dita complexidade, em nível interno e externo. Estes líderes são mais valorizados na medida que proporcionam serviços públicos importantes e pior valorizado se abusam das suas posições políticas, exercendo domínio exagerado sobre seus seguidores.

Conclusão

Destas informações, deduz-se que evolução cerebral permitiu superar e aprimorar as características de liderança herdadas dos não-humanos, mas não as características dos liderados ou submissos, vítimas das quarta e quinta etapas evolutivas da evolução da liderança. O que pode explicar porque a grande maioria ainda escolhe mal seus líderes(governantes) e sofrem com os desmandos, reagindo como animais na escolha de seus líderes, pelo que aparentam ser, na hora da necessidade ou da dificuldade. E isso, às mais das veses, inconscientemente.

[The Origins and Evolution of Leadership. Current Biology. Vol. 19, Issue 19, 13/10/2009, Pages R911-R916].

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