Fundamentalistas no Oriente Médio
Por causa do fracasso e da falta de desenvolvimento do Estado, muitas milícias desempenham o papel de um governo paralelo.
As grandes catástrofes e a reconstrução política são oportunidades para que o terrorismo e o fundamentalismo tentem se impor por meio do medo e do dinheiro (Rodrigo Craveiro, Correio Brasiliense, 12/08/2010)..
Menina afegã (2010)
No Afeganistão, os talibãs se aproveitam da quase inexistência do Estado para reconquistar áreas perdidas após a invasão anglo-americana, em 7 de outubro de 2001.
No Paquistão, assolado pelas chuvas que já matam 1,3 mil pessoas, a milícia Tehrik-i-Taliban Pakistan (TTP), o Talibã paquistanês, exige que as autoridades não aceitem ajuda do Ocidente.
No Iraque, a rede extremista Al-Qaeda promete pagar salários maiores a sunitas que debandarem do governo e se alistarem às suas fileiras.
Na Somália, a facção islâmica Al-Shabaab ordenou que três grupos de assistência humanitária ocidentais suspendessem a distribuição de alimentos e donativos a mais de 650 mil pessoas, sob a justificativa de “disseminarem suas ideologias corruptas”.
O indiano Muqtedar Khan, cientista político da Universidade de Delaware (Estados Unidos), renomado intelectual muçulmano, tenta explicar esse fenômeno, citando os partidos islâmicos Hezbollah, no Líbano, e Hamas, nos territórios palestinos, como exemplos: o Hezbollah reconstruindo casas após a guerra com Israel e o Hamas dirigindo universidades, escolas e hospitais.
Por causa do fracasso e da falta de desenvolvimento do Estado, muitas milícias desempenham o papel de um governo paralelo. Elas fornecem segurança, algumas vezes justiça rápida, e são agora os principais atores que respondem a desastres naturais. (Khan, 2010)
Crianças são levadas das famílias, treinadas em lugares isolados e colocadas em ação
Para Muqtedar Khan, ao atuarem como Estado, esses grupos minam as autoridades existentes e se aproveitam de benefícios do próprio Estado, como o recrutamento de cidadãos e a taxação de impostos, na forma de dinheiro de caridade.
As enchentes no Paquistão (2010)
O talibã paquistanês
Para o analista político Magnus Ranstorp, do Colégio de Defesa Nacional Sueco, o caso atual mais dramático é o do Paquistão, onde o governo não consegue responder às inundações que deixaram 2 milhões de deslocados e afetaram 14 milhões de pessoas. O porta-voz dos talibãs TTP, Azam Tariq, prometeu cerca de US$ 20 milhões para as vítimas, caso Islamabad recuse a oferta internacional.
Trata-se de um modo sofisticado de dividir a população das forças invasoras. O problema para o TTP é que eles terão que fornecer uma alternativa atrativa à população — e não apenas um ‘graveto' (Ranstorp, 2010)O estrategista paquistanês Hasan-Askari Rizvi, professor da Universidade de Punjab, disse que o governo do presidente Asif Ali Zardari não está levando o TTP a sério.
Essa declaração (de Azam Tariq) é vista mais como uma propaganda. As autoridades não permitiram que os talibãs se envolvessem no socorro aos flagelados. Além disso, as áreas tribais não foram afetadas pelas enchentes, e a milícia está impedida de atuar livremente no interior do país. (Rizvi, 2010)O fato de organizações islâmicas de caridade terem se mobilizado com mais agilidade que o governo já preocupa os Estados Unidos. Classificada como facção terrorista, a Jamat-ud-Dawa (JuD) garante já ter ajudado 250 mil pessoas, doando barracas, utensílios e 5 mil rúpias (cerca de US$ 58) a cada família atingida.
Cena comum no Iraque: camionete carregando vítimas de atentados
Os filhos do Iraque
Uma reportagem publicada pelo jornal britânico Daily Telegraph revela como a Al-Qaeda se mobiliza para ganhar espaço no país. No primeiro dia do Ramadã (mês sagrado para os muçulmanos), os milicianos do grupo Filhos do Iraque (que recebem cerca de US$ 300 por mês pelo governo) têm recebido da rede terrorista uma proposta salarial mais alta para aderirem às suas fileiras. A notícia não surpreende Muqtedar Khan:
“No Iraque, no Afeganistão e no Paquistão, a Al-Qaeda é tratada como opção de carreira por alguns. Ela paga mais que outras milícias e profissões e, para muitos que têm baixa escolaridade, é uma fonte de renda, respeito e poder” (Khan, 2010)
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