Portas abertas ao abuso de drogas
O uso de maconha não é o único fator de risco para adolescentes ingressarem no mundo das drogas. Aspectos ambientais e familiares são mais importantes.
A maconha não é uma porta de entrada pela qual se pode predizer um eventual abuso de drogas, segundo um longo estudo de Ralph Tarter e cols., do University of Pittsburgh Medical Center, com base no período de 1997-2009, publicado pelo American Journal of Psychiatry (Dez. 2009).
Os resultados da investigação põem em questão a filosofia básica dos esforços de prevenção e de políticas públicas, praticados nas últimas seis décadas, causa de muitos pais entrarem pânico ao descobrir uma bucha ou um cigarro de maconha no quarto do filho.
Tarter e cols. (2009) acompanharam 214 meninos com idades entre 10 e 12, os quais, eventualmente, usaram drogas (legais ou ilegais). Quando os meninos atingiram a idade de 22 anos, eles foram divididos e avaliados em três grupos: 1) os que usavam apenas álcool ou tabaco; 2) os que começaram com álcool e tabaco e depois começaram a fumar maconha (seqüência de entrada); e 3) aqueles que usavam maconha antes do álcool ou tabaco (seqüência reversa).
A pesquisa revelou que a maioria das pessoas avaliadas (63,2%) não eram mais propensas ao uso de substâncias psicoativas do que aquelas que seguiram a sucessão tradicional do álcool e tabaco antes da droga ilícita. Quase um quarto (23,7%) da população estudada usaram drogas lícitas e ilícitas em algum momento; e apenas 13,1% exibiram o padrão reverso do uso da maconha antes do álcool e/ou tabaco.
"O acesso progressivo à maconha pode ser o padrão mais comum, mas, certamente, não é a única ordem no uso de drogas. Na verdade, o padrão reverso é uma imposição forçada para se prever o risco de desenvolver dependência de drogas" (Tarter e cols., 2009).
Nesse estudo, além de testar a hipótese de uso da maconha (gateway) como preditor para o abuso de drogas (que não ficou totalmente confirmada), os pesquisadores procuraram identificar algumas características que distinguem os usuários do Grupo 2 (Sequência de entrada: álcool - tabaco - maconha). Das 35 variáveis examinadas, apenas três surgiram como fatores diferenciadores:
Os usuários em sequência reversa (maconha- álcool – tabaco) tinham vividos em bairros periféricos (em ambientes pobres), estavam mais expostos às drogas (na vizinhança) e não tinham muita atenção dos pais na infância. Ficou evidente, no estudo, uma tendência geral para o desvio de conduta ou comportamento criminoso, fortemente associada a todas as drogas ilícitas, desde a infância - quer se trate da seqüência de entrada ou reversa.
Enquanto a “teoria do gateway” postula que cada tipo de droga está associado a certos fatores de risco específicos, causadores de abusos de drogas subseqüentes, os resultados do estudo de Tarter e cols. (2009) sugerem que os aspectos ambientais influenciam fortemente sobre o tipo de substância a ser utilizada. Ou seja, “se for mais fácil para um adolescente fumar maconha do que tomar cerveja, então ele vai ser mais propenso a fumar maconha”.
Esta evidência conhecida como o “modelo de responsabilidade comum” é uma teoria emergente, segundo a qual a probabilidade de alguém fazer a transição para o uso de drogas não é determinada pelo uso anterior de uma determinada droga, mas sim por tendências individuais do usuário e as circunstâncias ambientais.
"A ênfase sobre as drogas em si, ao invés de outros fatores mais importantes que moldam o comportamento de uma pessoa, tem sido prejudicial para a política de drogas e programas de prevenção. Para se tornar mais eficazes os nossos esforços para combater o abuso de drogas, deveríamos dar mais atenção às intervenções que abordam estas questões, sobretudo para as competências parentais que moldam o comportamento da criança, bem como pelas pessoas e ambientes de vizinhança" (Tarter e cols., 2009).Segundo o estudo, intervenções focalizando mudanças de comportamento podem ser mais eficazes do que as táticas de prevenção anti-drogas tradicionais. Por exemplo, fornecendo orientações para os pais - em especial àqueles em bairros de alto risco – para estimular e impulsionar suas habilidades de cuidar melhor dos filhos, poderia ter um efeito mensurável sobre a probabilidade de uma criança fumar maconha. Além disso, a identificação precoce de crianças que apresentam tendências anti-sociais poderiam permitir intervenções antes mesmo de começar o uso de drogas.
Apesar desta pesquisa ter implicações significativas nas abordagens de prevenção do abuso de drogas, observam Tarter e cols. (2009) que o estudo tem algumas limitações, pois foram estudadas apenas pessoas do sexo masculino e não foram feitas análises de comportamentos em face do consumo de álcool, tabaco e maconha.
Em entrevista a Dev Meyers para o site Examiner.com, o Dr. Tarter (2009) informou que acompanha 775 famílias desde 1990, encontrando fatores ambienhtais e familiares que levam algumas crianças a usar drogas e desenvolver certos vícios. “Em algum lugar ao longo do caminho do desenvolvimento da infância até a idade adulta, uma determinada percentagem de crianças podem desenvolver um vício".
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