Era da melancolia e da ansiedade
Muitas pessoas viciaram-se em tecnologias de comunicação e se tornaramn ansiosas e melancólicas; outras se tornaram escravas
Na atualidade, a depressão atinge muito mais pessoas que no passado e uma das maiores causas desse problema pode ser a tecnologia que nos serve e nos escraviza. Segundo o psicólogo Daniel Goleman, citado por Yair Amichai-Hamburger (2009) no livro Technology and Psychological Well-being (Tecnologia e Bem Estar Psicológico), o estilo de vida cada vez mais é moldado pela tecnologia dos celulares, computadores e internet. Há uma compulsão por checar emails, conferir o Orkut, comprar o que há de mais recente e avançado em celulares e notebooks, ou simplesmente passar algumas horas nas redes sociais, em pesquisas do Google, enfim, diante do computador.
Em recente artigo publicado pela revista The New Scientist, Amichai-Hamburger (2009) coloca um tema para reflexão, perguntando se somos servidos ou escravizados pela tecnologia que nos rodeia. Para este autor, a tecnologia está afetando nosso bem estar; é importante, mas é preciso impedir que ela controle nossas vidas.
Cada dia mais, as pessoas só se sentem felizes se conseguem o que existe de mais avançado em tecnologia. Entretanto, há evidências acadêmicas mostrando que pessoas que dão muito valor aos bens materiais são menos felizes do que as menos materialistas. Materialismo está associado a baixa auto-estima, pouca empatia e tendência à manutenção de relações conflituosas.
Além do aspecto material, nossa cultura constantemente nos relembra que tempo é dinheiro – paradigma que encerra uma necessidade de atingirmos altos padrões de eficiência, levando ao uso constante de notebooks e celulares, suprimindo as fronteiras entre o trabalho e o lar, diminuindo a qualidade do relacionamento familiar e fazendo com que as pessoas se focalizem no aqui e agora, em prejuízo de seus objetivos de longo prazo.
Como forma de combater essa postura, Amichai-Hamburger recomenda a aplicação de quatro preceitos contidos na Teoria da Auto-Determinação (TAD), desenvolvida pelos psicólogos Edward Deci e Richard Ryan, da Universidade de Rochester – que identifica os elementos vitais para um saudável desenvolvimento pessoal:
• Autonomia – capacidade de organizar e controlar as próprias atividades e os limites de cada uma delas, de modo que sentimentos de falta de controle, de impulsividade e de indecisões não existam. Quanto à tecnologia, para se ter o controle, bastaria desligar celulares em determinados períodos e fixar horários para checar e responder emails.
• Eficiência – a crença de que as ações são realmente efetivas, usando ou não o modelo mais novo de celular ou de se ter uma longa lista de contatos, visitantes ou seguidores no Facebook, Orkut, Blogger, Twiter etc. Ser eficiente e dar continuidade à autonomia, sabendo o que objetivamente importa e fazer isso da maneira mais efetiva, usando tecnologia se e quando aplicável.
• Relações humanas satisfatórias – a necessidade de convívio intenso ou de se sentir próximo a outras pessoas, familiares e amigos, são alguns dos principais componentes da felicidade. A tecnologia pode ser uma ameaça a essa proximidade, pois equipamentos como o iPod criam uma bolha que nos desconecta dos relacionamentos normais. Relacionamentos virtuais podem ser interessantes, mas muitas vezes eles se estabelecem em prejuízo dos relacionamentos reais. Há também evidências científicas mostrando que uma das diferenças principais entre pessoas felizes e infelizes é a presença ou a ausência de relacionamento social satisfatório.
• Pensamento crítico – no mundo atual, onde as pessoas estão potencialmente disponíveis para absorver mensagens em tempo integral, é fundamental saber como analisar a qualidade dessas mensagens e simplesmente saber ignorar as que não tem valor.
O uso desses quatro elementos é a melhor maneira de fazer com que as relações com a tecnologia sejam saudável, melhorando a qualidade de vida sem prejuízo do desempenho profissional.
Viciados em gadgets
Uma outra pesquisa sobre este tema foi feita por Nada Kakabadse, da Universidade de Northamptom, que desenvolveu um estudo relacionado com as consequências que a dependência de alguns dispositivos cria nos utilizadores. A pesquisadora alerta para o fato de aparelhos como os smartphones estarem controlando cada vez mais os utilizadores, ao se tornarem um vício. E tal como outros vícios, este também acaba por interferir com a vida profissional das pessoas afetadas.
Num grupo de 360 pessoas avaliadas pela investigadora, havia muitas pessoas que admitiram acordar várias vezes durante a noite para ver se tinham recebido algum e-mail ou SMS.
Reconhecendo que o ser humano pode tornar-se viciado em diversas coisas, Kakabadse conclui que este tipo de situação é cada vez mais frequente, pois “a tecnologia da informação se tornou muito mais interessante nos últimos 10 anos com a Internet (...) É mais simples e muito mais portátill, portanto, mais acessível".
Kakabadse destaca que é surpreendente o número de pessoas que dormem com o celular ou o smartphone à cabeceira da cama e que, além das consequências sociais, há o surgimento de problemas nas relações familiares devido a um consequente afastamento.
Em nível profissional, a pesquisadora ressalva que, numa fase inicial de dependência, os viciados em tecnologia são bastante produtivos, mas com o passar do tempo acabam por sofrer consequências mais sérias, como ansiedade quando não se encontram perto dos seus gadgets.
O que mais preocupa Kakabadse é a dificuldade de detectar se alguém está tornando-se viciado, pois “quando se detecta, geralmente, é muito tarde”.
Fique ligado, mas fique atento!
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