Êêêh, povo que bebe!
Um padrão de consumo típico do brasileiro é o binge drinking ou beber pesado episódico (mais de cinco doses para homens e quatro para mulheres, em uma ocasião)
A pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da USP Camilla Magalhães Silveira coordenou, no Brasil, parte de uma investigação da Organização Mundial de Saúde (OMS) realizada em 28 países com o intuito de medir a prevalência de transtornos mentais na população. Na região metropolitana de São Paulo, escolhida para representar o País, mais de 5 mil pessoas participaram da pesquisa.
Os dados obtidos revelam que, enquanto o consumo per capita anual de bebida alcoólica na França é de 18 litros por pessoa, no Brasil ele está abaixo de 8 litros. No entanto, a taxa de abuso e dependência entre os franceses é de apenas 0,8%, enquanto, no Brasil, é de 4%, taxa prejudicial, segundo a escala da OMS (de um a quatro) – uma situação grave!
Os europeus têm um padrão de consumo protetor, que até faz bem à saúde (...) Em vez de beber todos os dias, moderadamente, às refeições, como os europeus, os brasileiros bebem tudo de uma vez no fim de semana. (Camilla Magalhães Silveira)É considerado um padrão prejudicial, pois aumenta o risco de dependência e deixa a pessoa mais sujeita a intoxicação e comportamento de risco, como sexo desprotegido, abuso de nicotina e dirigir embriagado
No topo da lista dos países que mais consomem bebidas alcoólicas por pessoa ao ano, estão países como Rússia, Ucrânia, Letônia, Lituânia. As bebidas destiladas são as preferidas. Países europeus, como França, Itália, Espanha, Suíça e Portugal, registram um consumo per capita alto de álcool. No entanto, o consumo é diferente: uma ou duas doses, todos os dias, o que traz menos riscos. Nos Estados Unidos, o consumo de álcool é mediano. (O Estado de S. Paulo – Karina Toledo, 02/04/2010)
O estudo revelou também que 86% dos entrevistados haviam consumido ao menos 1 dose de bebida alcoólica na vida, e 56,2% consomem regularmente (pelo menos 12 doses em 12 meses). A taxa de dependência foi de 3,3% e a de abuso, de 9,4%. Os abusadores não são a maioria no País, mas o impacto na saúde é grande, ao provocar acidentes de trânsito, violência física e verbal e baixo rendimento no trabalho e no estudo.
Outro levantamento recente, da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Unifesp, aponta para a mesma conclusão: quase metade da população é abstêmia – mas quem bebe, bebe muito. "Cerca de 25% disseram beber pouco e ocasionalmente. Os outros 25% são responsáveis por consumir 80% do álcool ingerido no País", informa Ronaldo Laranjeira, responsável pela pesquisa. Para o psiquiatra, esse padrão está relacionado a um consumo não domiciliar. "O consumo é principalmente social, fora de casa e, por isso, a tendência é que seja maior". Para ele, essa cultura é preocupante não só porque leva os jovens ao consumo excessivo, mas também porque os leva a beber longe do controle familiar.
Proibir a propaganda de bebidas alcoólicas e fiscalizar (coíbindo) a venda a menores de idade são as medidas apontadas por Laranjeira para reverter o quadro e impedir que “a educação de nossos filhos para o álcool seja feita pela indústria de bebida."
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