Comércio e consumo do crack
na sociedade brasileira é incontestável
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"Pedras de crack" |
Crack é o nome que se dá ao som produzido pela queima da substância. Trata-se de uma mistura de cristal de cocaína ou pasta-base ou cocaína em pó (cloridrato de cocaína e adulterantes), água e bicarbonato de sódio. A mistura é fervida até que a água tenha evaporado e a substância se resolve em pedras ou pedaços contendo alcalinos e cocaína, facilmente volatilizados em temperaturas moderadas.
O governo federal está colocando em prática um novo programa nacional de
enfrentamento ao crack e outras drogas. E vai bem nessa direção, pois esta substância é de fácil acesso, tem alta letalidade, causa dependência rapidamente e está presente em todo o território nacional, a baixo custo.
A propósito, o Conselho Federal de Medicina (CFM) lançou uma campanha para o combate ao
crack. As três publicações são resultado de três seminários com especialistas e autoridades de várias partes do Brasil que discutiram como enfrentar o crack.
A cartilha foi elaborada para orientar os médicos na relação com os dependentes e no tratamento e será distribuída pelo Ministério da Saúde. Todo o material já está na
internet.
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Usuários do crack - um descanso infeliz |
No final de 2010, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) fez levantamento dos problemas locais relacionados às drogas em 3.950 cidades brasileiras (uma amostragem de 71% do total) e mostrou que em 98% delas havia problemas relacionados ao crack. A pesquisa evidenciou que os secretários municipais de saúde ouvidos têm grandes dificuldades em enfrentar os problemas que a substância causa. Disse um deles: "A grande maioria das detenções são decorrentes de roubos para a compra de drogas".
Os Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas (Caps Ad), principal estratégia para o acolhimento e tratamento de portadores de transtornos mentais e usuários de drogas, estão presentes em apenas 14,8% das cidades, o que o próprio estudo indica ser insuficiente. O estudo revela que faltam "equipamentos sociais" e capacitação na área para cuidar dos dependentes.
Segundo o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski,
[...] não há investimento algum, não há uma política de integração entre União e Estado e Municípios para fazer esse enfrentamento. Quem está respondendo por isso são as comunidades, é a sociedade civil (Paulo Ziulkoski)
Para Marcelo Ribeiro (2011), doutor em Medicina (Psiquiatria) e investigador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad), serviço ligado ao Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o crack deve chamar a atenção de todos “porque sua dependência atinge níveis graves, impactantes: o usuário acaba se desligando de tudo, vaga pelas ruas em busca da droga".
Ainda segundo Ribeiro, para tratar do problema, é necessário se construir uma estrutura que inclua ampliação da rede de auxílio aos dependentes, que hoje é muito pequena e ineficaz, e que haja opções públicas de tratamento para os diferentes estágios da dependência.
[...] tem aquele cara que começou a usar crack e perdeu o controle, mas continua empregado e em contato com a família. Este pode se beneficiar de uma internação curta em um ambulatório ou em um Caps" (Ribeiro, 2011).
E tem também pacientes em estágio mais avançado de dependência que precisam de uma internação mais longa (de nove meses ou mais), em comunidades terapêuticas, onde o paciente se interna voluntariamente para se tratar em um ambiente comunitário, de modo que, junto a outros dependentes, cuida da residência: lava louça, limpa banheiros e faz atividades similares, "além de lutar por sua abstinência e reaprender a conviver em abstinência.
Na visão dos especialistas Marcelo Ribeiro e Ronaldo Laranjeiras, organizadores da importante obra “O tratamento do usuário de crack”, as escolas e usuários mais jovens devem ter prioridade no atendimento e que o sistema formal de tratamento deve agir em sintonia com o informal de autoajuda, como Narcóticos Anônimos, grupos familiares, comunitários e religiosos.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), sugerem que 3% da população brasileira é usuária desta droga, o que representa 6 milhões de pessoas. De acordo com o Observatório do Crack, a idade média em que os dependentes começam a consumir a substância é de 13 anos e o número de usuários que voltam ao uso após alta do tratamento é muito grande.
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Instrumentos improvisados do crack |
Segundo o psicólogo Rodrigo Sinnott Silva, desde 1986, inúmeros estudos chamam a atenção sobre o uso do crack em diferentes populações e os diversos casos clínicos e reações adversas neurológicas, psicológicas, cardíacas e pulmonares apresentadas pelos usuários. Segundo esse autor, a porcentagem de pacientes que relataram uso de crack (cocaína fumada) aumentou de 17% (1990), para 64% (1993) e continuam em ascenção.
Para Silva, outro fator que se deve considerar é a grande impulsividade e propensão a correr riscos, enfrentada pelos usuários de crack, até mesmo quando em períodos de abstinência temporária.
“O uso da substância leva os usuários a comportamentos de risco e percebe-se uma grande relação com estupros, violência e prostituição, levando, dessa forma, o usuário a uma condição primitiva e degradante de existência.
As muitas necessidades relatadas pelo usuário de crack, motivado para tratamento, sugerem que a entrada no tratamento e manutenção poderia ser facilitada por um prévio e mais abrangente serviço auxiliar ao tratamento. Usuários de crack que conseguem a abstinência também apresentam melhorias em outros domínios, como o familiar, legal, psiquiátrico e outros, o que justifica a busca por investimentos e pesquisa nessa área” (Rodrigo Sinnott Silva, 2008)
Para Pollyana Pimentel, assessora da Secretaria de Saúde do Recife (PE), tratar os dependentes é um deasafio, mas evitar que as pessoas cheguem ao ponto de precisar de tratamento é o maior desafio que deve começar nas escolas, de modo a evitar “que a pessoa chegue a um ponto de perda dos vínculos”.
Comportamento pouco estudado
Apesar de haver várias publicações nacionais recentes sobre cocaína,
a maioria dos estudos se preocupa com questões epidemiológicas em
populações específicas, como meninos de rua, estudantes ou pacientes em
tratamento. Pouco se sabe a respeito do padrão de uso e das
características específicas dos usuários (...)
Estudos mais
detalhados sobre o comportamento dessa população são necessários,
considerando que cada subgrupo de usuários de cocaína apresenta
especificidades que podem ser fundamentais no planejamento das políticas
de tratamento e prevenção (Ferri; Laranjeira; Silveira; Dunn;
Formigoni, 1997.
Para saber mais, visite os sites: Crack, nem pensar! — Vídeo sobre efeitos do crack — Entrevista com Marcelo Ribeiro (10/10/2008)
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